“As coisas poderiam ser mais simples, não???” - Falei com as paredes. Eu não havia nascido para ter essa sorte de tudo ao meu redor ser fácil de resolver.
Não consigo evitar que os flashes daquela noite iluminem cada pensamento. Os olhos dela brilhavam, mas seu sorriso estava apagado. Talvez já soubesse que a minha reação seria a pior. E pela primeira vez senti raiva nas palavras dela. Saí de lá sem pensar em nada mais do que me fazer de vitima. Deixei-a sozinha, e lembro-me de andar em ruas desertas até encontrar a casa vazia... condições perfeitas para organizar os acontecimentos.
A única coisa que me vinha à mente era: Ela nunca confiou em mim, ou, ela quebrou a promessa de que faria isso. E principalmente, ela só estava se importando em nos manter juntos... teria conseguido se pensasse no meu bem estar independente dos riscos, assim como penso em relação a ela.
Apesar disso, por mais que eu quisesse sentir raiva pela atitude dela, todos os motivos eram descartados. Eu pensava em todos os momentos perfeitos que me tiravam a lembrança de culpa do passado, o sorriso infantil dela que me fazia corresponder inconscientemente. Mas as sombras daquela noite voltavam. Iam e voltavam, como um ciclo, um ciclo de vida interminável. Quando eu queria trazê-la de volta para mim e simplesmente encarar aquela noite como um papel em branco, meus pés prendiam-se ao chão e eu não conseguia dar um passo. Perdi uma semana, sentindo que estava deixando-nos morrer a cada noite que chegava e cada dia que passava. Sentia-me frio. Não no sentido de que eu não me importava, pelo contrário. Cheguei à conclusão de que devia ser uma forma de ‘defesa’ natural. Dizem que no frio é possível manter algo em perfeitas condições. Um coração frio estaria conservando o amor para o momento que a raiva fosse embora? Para que ela não causasse mal nenhum a ele? Fazia sentido.
Com todos os momentos de contradição eu estava perdendo a cabeça. Meus argumentos eram eu mesmo contra a razão na minha mente. Na semana seguinte a razão não fazia mais sentido e eu sabia que tinha que fazer algo. Tentei telefonar, e por algum motivo ela não atendeu. Lembro de ter dado um soco no travesseiro... deste aquela noite ele nunca mais foi o mesmo. Algo diferente já passava pela minha cabeça... claro!
Estava dividido. Lembrava a forma idiota como eu havia agido, deixando-a sozinha sem dar explicações. Por dias achei que ela estava errada. Mas os telefonemas não atendidos permitiram uma análise de outro ângulo em que eu não fosse a vitima. Sim, ela não teria como adivinhar como a verdade nisso tudo me afetaria. E se me trouxesse más lembranças outra vez? Teria motivos para temer que eu passasse a amá-la apenas por ser a garota que esteve na minha mente por anos, e não por quem ela é agora? Sim, teria. Milhares de pessoas fazem isso. Acham que precisam amar alguém por uma forma de “caridade”. Isso nunca aconteceria conosco, mas, mesmo com o risco ela insistiu em contar naquele instante. Foi o que aconteceu, na verdade. Até ali, a confusão que eu estava por dentro não deixou que eu percebesse isso logo.
Joe chegou a contar que ela passava por dias difíceis, que o pai estava na cidade querendo levá-la embora. Demi chegou a chorar quando tocou no assunto no dia seguinte. Foi o que faltou para que fosse praticamente insuportável minha vontade de correr até lá e quando ela estivesse em meus braços prometer que ninguém a levaria de mim. Mas não podia ir... fiquei assustado com a ideia de ter quebrado aquele coração frágil assim como quebrei a promessa de estar com ela sempre. (Clique para ler Capítulo 69 - É Mais Do Que Isso) Pensando bem, ela sim tinha motivos para não confiar nas minhas promessas. Não dormi algumas noites pensando na possibilidade de ela ir embora, ou imaginando o que ela teve que enfrentar e nem ao menos eu estava lá. Eu precisava dela outra vez.
Uma tarde surpreendi-me ao vê-la parada na calçada. (Clique para ler capítulo 86 – Meu Grande Dilema) Na verdade, Taylor viu. Taylor era o tipo de garota que esnobava outros pela beleza e se desvalorizava com a futilidade mental que tinha. Não que não fosse inteligente, mas que se focava em coisas superficiais e para isso ela tinha um alto QI. Ela falava algo sem sentido que, como todas às vezes, não prestei atenção... até que perdidas entre suas muitas palavras ouvi-a perguntar “quem era a garota misteriosa de olhos azuis e curiosos”. Foi o mais próximo que ela chegou de recitar um poema.
Olhei rapidamente e vi o par de olhos que me prendeu no primeiro segundo em que os conheci. Eram como uma pequena parte oceano profundo. Tentei alcançar, mas a dor em seu rosto me fez parar. Se em algum momento eu a culpei por esconder uma verdade, naquele instante pude ouvir a maior de todas as verdades.
Miley: Bom... acho que você estava certo desde o início. Você não é capaz de cumprir promessas.
Não sei o que a levou a dizer isso, mas era claro para mim. Eu havia quebrado outra promessa importante, e não sabia se desta vez teria perdão. Ainda assim, eu não desistiria de encontrar outra oportunidade para fazê-la sorrir outra vez. Esse seria meu objetivo todos os dias, desde que ela permitisse. Era um momento de tempestade, talvez com ventos fortes, mas logo deveria chegar ao fim... mesmo que com grandes estragos. Eu só precisava saber... um dia, eu poderia abraçá-la da mesma forma que antes? Veria o mesmo sorriso que existia em seu rosto antes de tudo acontecer? Seus olhos brilhariam para mim outra vez, sem que houvessem lágrimas de culpa neles?
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